De acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), um fenômeno meteorológico vem preocupando pesquisadores que estudam o clima: o aumento na incidência de raios em todo o Brasil, que é campeão mundial em incidência do fenômeno.
Segundo o livro Relâmpagos, de Osmar Pinto Júnior e Iara Regina Cardoso de Almeida Pinto, que acaba de ser relançado, a incidência de raios chega a 50 milhões por ano. O fenômeno já causou 75 mortes em 2008 – o recorde da década – e prejuízos da ordem de R$ 1 bilhão.
No carro
Além das enchentes, os raios também são motivos de medo de muitos motoristas; afinal, ser atingido por um raio pode ter conseqüências fatais, causar queimaduras, danos no coração, pulmões, sistema nervoso e em outras partes do corpo.
Mas quais são as probabilidades de um raio atingir os ocupantes de um carro, moto ou bicicleta?
Para esclarecer esta e outras dúvidas, entrevistamos o mestre em energia pelo Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), Cláudio H. Furukawa, que também ensina como evitar o perigo.
Dentro de um carro – que não seja conversível – o risco de ocorrer uma descarga elétrica é muito pequeno, pois o carro funciona como uma blindagem eletrostática, também chamada de "gaiola de Faraday".
Como a lataria do automóvel é feita de metal que conduz melhor a eletricidade, caso haja uma descarga elétrica ela tende a percorrer uma trajetória de menor resistência através do metal, evitando passar por dentro do carro.
Carros conversíveis e os que não possuem carcaça de metal devem evitar locais descampados em dias de tempestade ou nas proximidades de nuvens carregadas.
O mesmo ocorre com os aviões em dias de tempestade. O risco maior é de que a descarga elétrica cause algum tipo de pane nos instrumentos ou no motor, o que, no caso de uma aeronave, pode ser catastrófico. Por isso, os aviões evitam fazer pousos ou decolagens quando existem nuvens carregadas em cima de aeroportos.
Na moto
O risco é maior no caso de uma moto, pois não há a blindagem metálica em cima da cabeça do motociclista. Nesse caso, também é melhor evitar locais descampados próximos de nuvens carregadas. O melhor é descer da moto e procurar um abrigo seguro.
Como não correr riscos
Durante uma tempestade, se estivermos dentro de um carro de carcaça metálica, estaremos mais seguros do que fora dele. Mas é preciso se lembrar de que não devemos ficar com os braços e cabeça para fora ou com alguma parte do corpo em contato com a parte metálica da carroceria. Como os bancos e o volante estão bem isolados eletricamente, praticamente não há riscos dentro dele.
O perigo das árvores
As árvores mais altas estão mais sujeitas às descargas elétricas, pois, em geral, elas estão próximas de nuvens carregadas. A eletricidade sempre tende a percorrer um caminho mais curto ou de menor resistência. Em dias de chuva, não só as árvores atraem mais os raios, mas qualquer outra estrutura alta, como quiosques que não tenham pára-raios instalados. O pára-raios nada mais é do que uma ponta de metal instalada em um local alto e ligada à terra por um fio condutor.
Outros perigos
Quando houver nuvens carregadas nas proximidades (não é preciso necessariamente que esteja chovendo!), é melhor evitar ficar debaixo de árvores, quiosques, antenas, postes etc. que não tenham pára-raios para proteção. Caso haja uma descarga nestes locais, a grande quantidade de corrente elétrica passando por estas estruturas pode causar grande aquecimento, provocando uma “explosão”, que chamamos de trovão (barulho causado por uma descarga).
Além disso, parte da descarga poderá passar pela pessoa que estiver perto, o que pode causar desde um pequeno choque até paradas cardíacas ou respiratórias, além de grandes queimaduras.
Relâmpagos
Para quem se interessa pelo tema, o livro Relâmpagos, direcionado para o público em geral, apresenta conceitos básicos sobre os raios, traz números atualizados sobre a incidência em diferentes regiões do Brasil, indica como se proteger ou evitar prejuízos e discute a possível variação da incidência em função do aquecimento global.
“O livro foi originalmente publicado em 1996, mas desde então o conhecimento sobre os relâmpagos no Brasil avançou muito e isso motivou o relançamento. O conteúdo foi revisto e aprimorado e muitas novas informações foram agregadas. O livro contribui no sentido de conscientizar a população para a importância desse estudo e despertar futuros cientistas para os novos desafios nesta área do conhecimento”, disse Pinto Júnior à Agência Fapesp.
Segundo o autor, o livro tenta contextualizar a ocorrência do fenômeno no Brasil e faz um alerta sobre a possibilidade de aumento na incidência de raios nas próximas décadas em função das mudanças climáticas decorrentes do aquecimento global. O Brasil, por sua extensão territorial e proximidade com a linha do Equador, é o país com maior incidência de raios do mundo.
“Procuramos discutir as razões dessa maior frequência no Brasil, além de questões conceituais, como o que são relâmpagos e como se originam, se saem da terra ou das nuvens, que pontos costumam atingir, onde se abrigar durante os temporais e como as pesquisas do Elat têm revelado detalhes dos relâmpagos com o uso de câmeras de alta velocidade e sistemas de detecção”, explicou.
Os raios são uma das inúmeras e intensas manifestações da natureza na busca de equilíbrio. “Eles ocorrem a partir do choque de partículas de gelo no interior de nuvens de tempestade. Correspondem a uma busca de equilíbrio elétrico natural”, disse.
O aumento considerável na incidência registrado pelo Inpe, segundo o cientista, deve-se a fenômenos de larga escala como o La Niña. Mas também é plausível que a elevação seja consequência das mudanças climáticas globais.
Relâmpagos
Autores: Osmar Pinto Júnior e Iara Regina Cardoso de Almeida Pinto
Páginas: 112
Preço: R$ 33,70
Fonte: webmotors.com.br